O novo tarot é o Tarot of New Vision, concebido por Pietro Alligo e projetado pelos irmãos Raul e Gianluca Cestaro (tinham que ser 2!), lançado em 2003, quase cem anos após o lançamento do tarô criado por Arthur Edward Waite. Eles propunham uma visão, no mínimo, inusitada do tradicional tarot Waite, brincando com o que haveria nos bastidores, por detrás de cada carta. Prefiro pensar esta mudança de perspectiva - afinal eles simplesmente invertem a ótica do que é visto - como se fosse o 'verso' de cada carta. A sombra dela. Proponho aqui a visão in versa da carta 3 de Copas, com o uso desta nova ótica.
Já os 2 colegas que me refiro para ajudar na interpretação desta carta são os tarólogos NELISE VIEIRA, da qual transcrevo seu olhar 'egípcio' sobre um dos aspectos oculto desta carta (o Apostolado), e o tarólogo ALEX, que fala sobre outro 'achado', o 2 de Espadas.
Eis o resultado desta 'brincadeira' de esconde-esconde:
3 de Copas, à luz do Tarot Waite |
Porque o 3 de Copas: Poderia analisar qualquer carta, mas esta me chama a atenção por um motivo específico, bem pessoal. Eu e 2 amigas há algum tempo conversamos sobre trabalhar juntas com cultura. Ambas nos encontramos há exatos 12 meses, numa campanha política. Éramos uma 'tríade' já naquela época. 3 mulheres em posições pilares na campanha: eu, como roteirista, minha amiga de Florianópolis como produtora e a terceira, residente no RJ, como estrela e porta-voz da campanha.
3 naipes diferentes, representados nas cartas pelas cores: uma dama de espadas (branco/metal/eu), uma de copas (vermelho/coração/a do RJ) e a terceira, dama de ouros (amarelo/dinheiro/de Floripa). Juntas, dançando em círculo, as damas, nós, mostrávamos igual força, unindo nossos dons e levantando nossas taças (talentos) como um brinde à vida. A cena parece feliz e harmônica. E éramos assim, as três, na campanha: por mais triste que fosse o cenário da política, nós, ali, éramos uma só, unindo nossos talentos e brindando à vida. Continuamos brindando à nossa união quando decidimos que juntaríamos nossos talentos e continuaríamos ligadas pela nossa paixão: a arte.
3 de Copas, às sombras do tarot da 'nova visão' |
O outro lado do 3 de copas
Mas tudo na vida tem um outro lado... e esta mesma carta revertida, através da ótica do 'tarot da nova visão', mostra em detalhes uma situação um pouco diferente. Nem as damas são iguais, nem suas atitudes. E talvez o resultado do que aparentemente vemos como 'um brinde à vida' signifique muito mais do que isso.
Vamos analisar as PERSONAGENS das cartas, através da diferença de como se mostram. As roupas representam a imagem que queremos expressar enquanto também é o nosso abrigo, nossa proteção contra as intempéries do mundo. Ela mostra nossas máscaras e nossa POSIÇÃO sócio-econômica.
Neste sentido, vemos a dama de espadas com o corpo mais à mostra. Ela veste uma única túnica branca, de mangas curtas, mais pueril, não demarcando sua cintura, evidenciando sua simplicidade e vulnerabilidade. Até mesmo sua pobreza. Ela parece também a mais jovem das três.
A dama de ouros está com 2 túnicas, na verdade. Por debaixo da sua túnica dourada curta e de mangas médias, ela revela a que realmente cobre sua pele - branca, no tarot Waite e rosa, no tarot da 'nova visão'. Isto é, ela parece ter 2 identidades, como se aparentasse riqueza, leveza e sobriedade, mas fosse vulnerável social e emocionalmente. Ela também segura em sua mão esquerda um cacho de uvas. Graças à abundância de suas sementes, as uvas simbolizam a fertilidade. O bem-estar material que vem de uma união proveitosa. Prazeres e filhos também estão relacionados, como se a nossa dama carregasse numa das mãos o seu talento e, noutra, seu poder de atração e capacidade de produzir, que lhe traz sustento. É a mais calorosa e terrena de todas.
Já a dama de copas é a que está mais ricamente vestida, com uma capa sobre sua túnica vermelha de mangas longas. Esta é a mais passional, reservada e a que também é mais 'protegida' das três . Sua capa reflete suas 'costas quentes'; isto é, ela tem a proteção de terceiros. Sua exuberante túnica marca sua cintura, evidenciando sua feminilidade e ligação com a sexualidade. Ela é a que está mais 'estabelecida' das três e a que mostra atitudes mais condizentes a uma mulher mais madura.
Já na ação da carta, reparamos na ATITUDE das 3 damas. Primeiro, vemos que não são iguais as mãos que seguram as taças. Mãos expressam MOTIVAÇÕES. Enquanto as damas de ouros e copas erguem suas taças destramente, a de espadas ergue sua taça com a mão esquerda. Isto é, enquanto para a dama de ouros e copas, seus talentos (taças) são movidos pela razão, para a dama de espadas, o seu talento vem do coração. Ela quer se unir às demais pelo afeto, não somente por interesse. E ergue sua taça mais alto que as demais, como que propondo o brinde.
Aqui, analisamos a DINÂMICA da relação das três. Parece que quem brindaria com a dama de espadas seria a dama de copas, que está diante dela. Porém, a dama de ouros, ao invés se unir a elas, posiciona sua taça como uma interposição ao brinde, bloqueando a união das demais damas. E nesta posição de braços, se evidenciam duas situações:
1) os braços das damas de ouros e espadas formam uma cruz invertida;2) a cruz 'cega' a dama de copas.
Vemos o destino de uma situação pela forma como conduzimos nossas ações. Oras, o que significa uma cruz invertida e a cegueira da dama? 2 cartas do tarot são marcadas por estes símbolos: a carta 12, do Apostolado (cruz) e a carta 2 de espadas (cegueira). A carta do Apostolado fala sobre o trabalho de fé. A do 2 de espadas, sobre uma decisão.
Qual será o futuro das nossas damas? Abaixo, a visão dos dois tarólogos:
Qual será o futuro das nossas damas? Abaixo, a visão dos dois tarólogos:
"O Apostolado significa a mudança de vida que acontece quando encontramos uma direção mestra para o nosso real desenvolvimento. É como se nesse momento nós pudéssemos encontrar um mestre que diz tudo o que a gente pensa, mas nunca expressou com aquela clareza que o mestre está manifestando. O ideal, a filosofia de vida fica clara, e assim nós damos permissão a nós mesmo de deixar para trás os velhos valores, os velhos ideais, e passamos a focalizar toda a nossa energia no novo ideal. Como a mudança de vida que acontece quando o apóstolo teve a revelação que o levou a dedicar sua vida aos seus ideais. Por isso esta carta simboliza mudanças de vida radicais. Normal sempre depois que você atinge um objetivo muito importante que consumiu toda a sua energia por anos. Por isso representa um momento onde você está conseguindo atingir objetivos muito importantes, que faziam parte de uma série de tarefas, onde você buscava provar o seu valor e suas capacidades. Ela mostra então que você provou o que queria provar, para si mesmo, e para a família. Então ela traz a libertação de uma série de obrigações, culpas e preconceitos, deixando-o mais livre para definir melhor agora seus objetivos; mais centrado na sua missão, do que no que os outros acham que deveria seguir. Libertação, possibilidade aberta para desenvolver outros aspectos do seu ser. Focalizar a energia no seu real projeto de vida." (Nelise Vieira)
O 2 de Espadas, por Alex Tarólogo:
"O 2 de Espadas é uma carta que nos mostra que estamos lidando com o isolamento. O intelecto, sozinho, pode nos conduzir a uma forma obsessiva de pensar. Nós analisamos e analisamos, uma, duas, três, muitas vezes, e não chegamos a lugar algum. Nada concluímos. Isso implica pensar que deveríamos descartar nosso lado racional? Não. Isso significa que devemos equilibrar e integrar esse nosso lado lógico, intelectual com outras funções da consciência. Assim como precisamos de emoções para vitalizar os nossos pensamentos, nós precisamos da razão para controlar o nosso mergulho nessas mesmas emoções. O significado primário do 2 de Espadas é de que há algo que não desejamos ver, não desejamos nos conscientizar. E por que isso? Porque não queremos agir. Não queremos tomar uma atitude. Se não vemos o motivo do problema, nos consideramos isentos de nos responsabilizarmos por ele. Essa carta nos fala de uma decisão, de uma escolha que necessitamos tomar e que, possivelmente, não estamos aptos a fazer. Isso frequentemente acaba nos paralisando, deixando-nos sem ação, imobilizados num rosário de dúvidas. É quando a mente nos falha, nos impedindo de fazer uma opção, escolher um caminho ou de imaginar uma solução que seja viável para uma determinada situação. É chegado o momento de questionar-se o quanto participa ativamente da sua própria vida. Será que o Consultante vê as coisas como elas realmente o são? O quanto ele está experimentando uma dicotomia, vítima de seu pensamento dualista? Representa uma ruptura na harmonia. O Consultante pode estar se sentindo em meio a dois fogos cruzados, no meio de uma batalha, pressionado por lados opostos."
"O 2 de Espadas é uma carta que nos mostra que estamos lidando com o isolamento. O intelecto, sozinho, pode nos conduzir a uma forma obsessiva de pensar. Nós analisamos e analisamos, uma, duas, três, muitas vezes, e não chegamos a lugar algum. Nada concluímos. Isso implica pensar que deveríamos descartar nosso lado racional? Não. Isso significa que devemos equilibrar e integrar esse nosso lado lógico, intelectual com outras funções da consciência. Assim como precisamos de emoções para vitalizar os nossos pensamentos, nós precisamos da razão para controlar o nosso mergulho nessas mesmas emoções. O significado primário do 2 de Espadas é de que há algo que não desejamos ver, não desejamos nos conscientizar. E por que isso? Porque não queremos agir. Não queremos tomar uma atitude. Se não vemos o motivo do problema, nos consideramos isentos de nos responsabilizarmos por ele. Essa carta nos fala de uma decisão, de uma escolha que necessitamos tomar e que, possivelmente, não estamos aptos a fazer. Isso frequentemente acaba nos paralisando, deixando-nos sem ação, imobilizados num rosário de dúvidas. É quando a mente nos falha, nos impedindo de fazer uma opção, escolher um caminho ou de imaginar uma solução que seja viável para uma determinada situação. É chegado o momento de questionar-se o quanto participa ativamente da sua própria vida. Será que o Consultante vê as coisas como elas realmente o são? O quanto ele está experimentando uma dicotomia, vítima de seu pensamento dualista? Representa uma ruptura na harmonia. O Consultante pode estar se sentindo em meio a dois fogos cruzados, no meio de uma batalha, pressionado por lados opostos."